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Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Antes te levasse consigo!

 

Agarra-me debaixo da chuva fria. Deixa-me ver as gotas a deslizar pelo teu rosto. Deixa-me sentir o teu corpo tremer, junto ao meu.

Agarra o tempo que não espera. Aprisiona-o na caixa de Pandora, onde ninguém nos virá procurar.

Um carro passa e desconcentra-nos o silêncio.

Puxas-me para o abrigo e dizes-me para aguardar. Desapareces-te por entre a água…

No regresso trazias uma caixa, deslizavas suavemente por entre a estrada, como quem guarda cristal. Como quem segura numa criança.

 

Levantei-me mas tu desejas-te que permanecesse assim mesmo. Tiras-te de lá um cobertor quentinho, dois copos, um termo com água quente mais uns torrões de açúcar.

A caixa serviu de mesa. As carteirinhas de chã, juntos com aquela água quente, eram um mero aconchego. A manta, era somente o que nos unia. E eu e tu, a partilhar o mesmo desconforto, era o começo de uma vida.

 

Éramos apaixonados sem medo de amar. Apaixonados sem dores e mágoas. Éramos apaixonados pelo sentimento gracioso, etéreo. Sensações assim, não aparecem a toda a hora, portanto é bom fazer loucuras enquanto a pureza se encontra a morar no coração. Enquanto não é lerdo, ou estranho, ou anormal. Enquanto o mundo é limitado e irracional.

 

Cedo, o cobertor que nos cobria, começou a servir apenas para nos aquecer, e o chã com sabor a maça - canela deixou de ser quente e doce.

Alguém abriu a caixa de Pandora, descobriu o que fomos, matou o que éramos e desapareceu com o que eras.

 

Antes te levasse consigo! Mas não. Como castigo aguilhoaste-me a teu lado, e a mesa de cartão, deixou de segurar o calor. Transformou-se numa pedra fria que apenas servia para nos unirmos à mesa, distantes do tempo em que nos abraçávamos sem pedir.

 

Antes te levasse consigo, para eu apenas conhecer a dor de uma memória. Assim vivo todos os dias, com o cheiro da incapacidade de te ver sair. Sem vontade de ficar contigo, sem vontade de te mandar embora.

 

Só aquela chuva, permaneceu presa na Caixa de Pandora.

 

Catarina Portela

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