A vida das Divisas
Correram loucas as "ainda crianças", rastejaram no chão, comeram terra, e adormeciam de corpo magoado. Ouviam-se lágrimas por entre a noite, e desesperos em todo o dia. Onde a camaradagem lhes servia de estimulo, onde a frieza atroz lhe tirava o sorriso.
Assim mudam de rosto, os meninos do mundo que escolhem defender a pátria.
Mudam de atitude, moldam-se à dor. Aprendem a não sentir, a deitar fora, os sentimentos melancólicos. A vida jamais será a mesma. E eles? Eles também…
Chamam-lhe crescimento, eu ainda hoje lhe chamo decrescer.
O coração molda-se à vida, que lhes ensina que não podem prender-se a ninguém. Porque na guerra do mundo, não há amor que resista, mas também não há força que os coloque a combater, maior que o amor que recebem mal entram em casa.
Choram nos quartos que o Estado pagou, as mulheres que os escolhem e aprendem a viver com a “quase indiferença”.
Calam-se por entre gestos bruscos, e frases firmes. Perdem a noções do Ser Humano, e do sabor de viver, sem sobreviver.
Compreensível é a constante dor que os move, pois apenas são chamados a recorrer aos problemas que são de todos. Ouvem discussões, separam casais, disparam e criam a morte, esmagam a vida humana, e no fim, exaltam a profissão. A única coisa que lhes resta da vida. Umas simples divisas…
Muitos reparam tarde, que aquela forma de vida, é incapaz de os completar. Colocam um fim à vida, pelo tempo em que a sua vida não valeu a pena.
São homens e mulheres de força, com capacidades para aguentarem todas as pressões possíveis. Menos as suas...
Cresceram, escondendo a dor e as lágrimas. E morrem arrependidos com a distância, que os ensinam a não ser de ninguém.
São olhares frios, perdidos no mundo de nada, olhando problemas de todos.
Este são os homens e mulheres que o mundo cria, para defender a pátria.
Não compatível, com quem desejar viver o Amor em pleno.
Mas será que alguém o vive?!
(Texto de opinião. Existem profissões que devem ser uma prioridade de vida, mas que impedem outros de serem uma prioridade. Geram-se conflitos... muitas vezes com eles próprios...
A profissão, é mais importante para a nossa realização pessoal, do que se imagina. Tarde se percebe se a escolha foi certa, ou errada...)