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Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Obrigado - História de Vida de Rita

 

 

Eras um sonho de menino, que me mimavas de alegria, e me enchias de nostalgia. Eras um sonho de rapaz, que me colocavas um brilho no olhar, e um sorriso do tamanho do céu. Que me olhavas profundamente, e me tocavas nos cabelos de uma forma tão meiga, que até parecia cruel.

Assim, eu vivia nas nuvens, tu primavas pela passadeira vermelha que colocavas a meus pés.

 

Eu não queria ver o teu lado negro, a faca guardavas no bolso, para me apunhalares pelas costas.

Quando acordei, estava banhada em sangue, coberta de lágrimas, rasgada da vida, amarrotada de ódio!

 

Fizeste-me crescer! Não porque me mataste, mas sim, porque me trocaste! Fizeste-me crescer, por cada dor mal curada, por cada estalo no vazio, por cada palavra que não disseste, por cada acção no silêncio.

 

Eu? Eu levantei-me e caminhei por entre os mortos, e voltei a nascer, com uma nova força.

Disfarcei as cicatrizes que tu causaste, coloquei a alegria dentro do meu peito, e aliei-me a todos os que poderiam ser meus inimigos.

 

Confiei neles, confiei nelas. Confiei porque não via maldade. Confiei porque na verdade, eu não sabia o que era o Homem, e a sujidade que trazia consigo. Confiei sim.

Confiei porque ainda me custa ver, todas as pessoas que me falam, e me querem mal. Ainda me custa acreditar, que o Ser Humano magoa quem lhe faz o bem… Custa-me ver morrer a menina que fui…

 

Promessas foram feitas, mas em vão, pois não foram cumpridas.

Fiquei eu novamente, no canto do mundo, de coração apertado, e lágrimas enchendo os rios.

 

Qual é o feitiço que ele lança. Que permanece para alem do tempo. Basta a presença marcada, um olhar preocupado, um jeito mais terno. E tudo se vai, como se nunca me tivesse agonizado!

 

Hoje digo. Chega!

Chega de acreditar em quem não está ali para nos proteger! Existe no mundo, alguém que só vive para nos ofender, para nos prejudicar.

Ás vezes, esses Seres Malvados estão mais próximo do que imaginamos!

 

No fim agradeço…

Obrigado pelas lágrimas, pelas quedas, pelas desconfianças.

Obrigado pelos desgostos, pelas noites em claro, pela amizade enganada.

Obrigado pelo passado atrofiado, pelos momentos bons, e por todos aqueles que doem só de lembrar…

Obrigado à triste sina, à triste sorte.

Obrigado por me tornarem… mais forte!

 

                                                                                     

História baseada na vida de Rita

 

 


 

 

Antes te levasse consigo!

 

Agarra-me debaixo da chuva fria. Deixa-me ver as gotas a deslizar pelo teu rosto. Deixa-me sentir o teu corpo tremer, junto ao meu.

Agarra o tempo que não espera. Aprisiona-o na caixa de Pandora, onde ninguém nos virá procurar.

Um carro passa e desconcentra-nos o silêncio.

Puxas-me para o abrigo e dizes-me para aguardar. Desapareces-te por entre a água…

No regresso trazias uma caixa, deslizavas suavemente por entre a estrada, como quem guarda cristal. Como quem segura numa criança.

 

Levantei-me mas tu desejas-te que permanecesse assim mesmo. Tiras-te de lá um cobertor quentinho, dois copos, um termo com água quente mais uns torrões de açúcar.

A caixa serviu de mesa. As carteirinhas de chã, juntos com aquela água quente, eram um mero aconchego. A manta, era somente o que nos unia. E eu e tu, a partilhar o mesmo desconforto, era o começo de uma vida.

 

Éramos apaixonados sem medo de amar. Apaixonados sem dores e mágoas. Éramos apaixonados pelo sentimento gracioso, etéreo. Sensações assim, não aparecem a toda a hora, portanto é bom fazer loucuras enquanto a pureza se encontra a morar no coração. Enquanto não é lerdo, ou estranho, ou anormal. Enquanto o mundo é limitado e irracional.

 

Cedo, o cobertor que nos cobria, começou a servir apenas para nos aquecer, e o chã com sabor a maça - canela deixou de ser quente e doce.

Alguém abriu a caixa de Pandora, descobriu o que fomos, matou o que éramos e desapareceu com o que eras.

 

Antes te levasse consigo! Mas não. Como castigo aguilhoaste-me a teu lado, e a mesa de cartão, deixou de segurar o calor. Transformou-se numa pedra fria que apenas servia para nos unirmos à mesa, distantes do tempo em que nos abraçávamos sem pedir.

 

Antes te levasse consigo, para eu apenas conhecer a dor de uma memória. Assim vivo todos os dias, com o cheiro da incapacidade de te ver sair. Sem vontade de ficar contigo, sem vontade de te mandar embora.

 

Só aquela chuva, permaneceu presa na Caixa de Pandora.

 

Catarina Portela