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Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Histórias de Vida

Escrevam para catarinaportela86@gmail.com e conte sua a história da sua vida.

Desaparecido, mas não Esquecido - História de Vida de Paulina Mouralinho

 

 

O meu irmão.

O teu irmão.

A tua mãe, o teu pai.

O teu primo, tio, avô…

O teu amado.

O teu ombro amigo…

O teu vizinho…

 

“Chama-se João Rui Marques Gomes, nasceu em 26-09-1973, tem 37 anos, é alto (cerca de 1,80), magro, de olhos e cabelo castanhos.”

 

A vida perigosa assusta os passageiros da estrada, que sem ver o que está a sua volta, confiam a sua vida, à sorte.

Perdem-se na caminhada, e deixam para trás uma memória sem rasto.

 

Tudo é farejado, como se de repente policia e famílias estivessem de mãos dadas, até à altura em que um deles baixa os braços. Mas a família não desiste assim… E correm apressados como se a vida e a morte dependessem deles.

Acreditam que podem mudar o mundo e a realidade à sua volta, não por eles, mas sim pelos que amam.

 

Mostram as suas lágrimas ao público que se contorce de dor, e muitos são os que, sem os conhecer, enxugam essas gotas salgadas de amargura. Não será difícil imaginar a insanidade que reina a partir do dia em que nunca mais, se lhe ouviu a voz.

No horário dos aflitos aparecem e desaparecem milhares de pessoas, uns que julgávamos amigos, outros que apenas se tornam parte da família pelo enorme coração que possuem.

 

O que resta da alma dos sobreviventes à tragédia, é como uma taça de cristal, que dá som quando tocada com suavidade com um dedo molhado, é frágil e ao mesmo tempo com a beleza inicial. Contemplada, admirada por todos os que compreendem, ou tentam compreender, a delicada partida que lhes pregou a vida.

 

Em casa, todos os seus objectos são um Templo dos Deuses, adorados e velados. Como se uma igreja se instaura-se, mesmo debaixo do tecto em que se vive.

Ali se sofre, se reza, se chora, e se cala quando se deseja falar.

 

Ali cresceu alguém, viveu alguém, sorriu alguém. Que agora só porque não está, o querem esquecer…

No entanto, ele é apenas um desaparecido, mas não esquecido.

 

Mas podia ser:

 

O meu irmão.

O teu irmão.

A tua mãe, o teu pai.

O teu primo, tio, avô…

O teu amado.

O teu ombro amigo…

O teu vizinho…

 

 

“Chama-se João Rui Marques Gomes, nasceu em 26-09-1973, é alto (cerca de 1,80), magro, de olhos e cabelo castanhos.

Estava a viver em Badajoz quando desapareceu em Fevereiro de 2009. A minha mãe, irmã e eu deixámos de receber qualquer notícia a partir da data anterior.

Como nos damos todos muito bem tem sido uma grande angústia não saber de alguém que amamos e muito.

A minha mãe já foi a Badajoz comunicar à polícia espanhola, também o fez à polícia judiciária em Portugal e até já foi a um programa da Sic já há alguns meses apresentar o caso. Mas  até agora nada se sabe.

Fica sempre a esperança apesar de os dias...meses...ano(s) serem vividos com muita tristeza e ansiedade por uma notícia que não chega.

Bem haja a quem se lembra de casos como estes e constrói um blog/site com uma frase tão verdadeira "desaparecidos mas não esquecidos".

Não sei se é possível colocar uma foto do meu irmão...mas se for fico agradecida.

Com carinho.”

 

Texto de Catarina Portela

Baseado na História de Vida de Paulina Mouralinho

 

(e para que não seja esquecido, é importante lembrar João Rui Marques Gomes…

Copiem o texto, coloquem o autor, divulguem a foto, e passem a mensagem

qualquer noticia contactar a Policia Judiciária)

 

 



 

 

Assim farei, um dia... história de vida de Sara Freitas

 

Chovia nesse dia, torrencialmente, como se não existisse um amanha. Como se os Deuses chorassem por ti, como se avisassem os comuns mortais de um dia fatal.

 

Dois deles eram, equitativamente iguais, mas apenas um me ouvia e me falava de uma forma mágica. Apenas ele me saciava a mente como se me envolvesse em seda. Foi esse que os Deuses me roubaram…

 

Já não se ouvem palavras, já não tenho o teu ombro, somente se ouvem lágrimas a cair do meu rosto, e a mergulharem na almofada.

Trazias-me calma, alento e alegria, e eu dei-te amor, desejos e projectos. Ficamos somente descobertos para a vida, e eu com tanto ainda para te contar…

O meu Amor, o meu Amigo.

 

Perdido entre oceanos de tormento, abres os braços para me receberes. Eu quero ir, mas o céu separa-te de mim, e a terra acorrenta-me à vida. Eu grito, contorço-me de raiva, amarro na injustiça, e nada vale a pena…

 

Sinto-te perto. Como se nunca me tivesses deixado. No sussurrar do silêncio te encontro, e aí mesmo me perco.

Perco-me em ti, como se existisses. Como se daqui a algum tempo nos voltássemos a encontrar. Como da ultima vez, inesperadamente, por entre os caracteres de uma qualquer tecnologia.

Eu encontro-te, um dia… Não entre botões e barulhos, não entre escolinhas do passado, mas sim na eternidade de um dia sem fim.

Enfim, sós. Eternamente sós…

 

Um pedaço de terra bebeu-te a vida. Desamparou meus afagos e esqueceu-se que existo…

Um pedaço de terra levou-te de mim, mas não quer que chore, quer que sorria…

 

E assim farei...Um dia…

Assim farei…

 

 

Texto baseado na vida de Sara Freitas

Em memória de André Sousa que faleceu com 13 anos num acidente de automóvel.

 

 

 

 

Equilíbrio - História de Vida de Joana Rosa

 

 

A inocência curta e justa, corre por entre intervalos, indecisa.

Será que te beije na face? Será que espere pelo teu enlace?

 

Namoro contigo, namoro sim! Namoro porque sei que gosto de ti. Assim, como quem esconde um segredo, que é meu por direito!

Tu, sem jeito brincas com a pureza que trago, e sem razão discuto pela relação que não existe…

 

Começa a história de amor de uma vida.

 Sina de menina, que ainda em criança amava, e amo… Amo sim!

 

Diz-se que é uma luz intensa que ilumina os nossos amados, e que é assim que os vemos enquanto crianças. Brilhantes, os nossos cavaleiros que sem espadas, travam monstros.

Depressa, estou inquieta por crescer!

 

Crescemos, crescemos, juntos como se unidos por Deus. E discutimos, discutimos, como se Satanás nos invejasse pelo que nos une.

Ano após ano. Primavera atrás de Primavera.

 

A chuva caí, molha a areia do chão, e o mar não parece feliz.

Nós estamos. Não estamos amor?

Nós estamos felizes.

 

Vá, não me deixes só, após todos estes anos de partilha.

 

Sei que peco, e tu também. Chama-se rotina, a que teimo em chamar previsão dos acontecimentos. O tempo tira-nos a capacidade de nos surpreender. Mas querido! São tantos anos… tantos.

Como não entendes que o tempo também mata?!

Mata… Mas mata mais depressa não te ter.

 

Imagina o que é apagar da memória toda uma vida. Imagina que em crianças não nos encontramos… Imagina que naquele dia não choveu no mar. Imagina que as primaveras não apareceram…

Para tudo isso, tens que imaginar somente, que não existimos.

 

No dia em que te vi, alguém sorriu no céu.

No dia em que te perdi, caiu uma lágrima de Deus.

No dia em que voltares, entrará em equilíbrio a Terra e o Olimpo.

Não são só palavras, é o que sinto…

 

 

Texto baseado na vida de Joana Rosa...

 

O brilho do teu Olhar...

Não sabes o que pensa quando te beija. Não sabes que é comigo que ele sonha à noite. Não sabes que é a mim que ele deseja em silêncio.

 

Não digas que não sentes os olhos vazios, o mutismo que corta, os muros que constrói para te esconder a verdade.

Não digas que não reparas no entusiasmo do dia, para não te ver à noite. Não digas que ele não se distrai. Que não pega num qualquer brinquedo para se esquecer desse tecto.

Não digas que não sai da porta sem saber quando volta.

Não digas, absorve!

 

Dilui a dor, para que não corte como facas.

Dilui para que não sintas o gelo do seu olhar, a indiferença que esconde com o sorriso.

Ele, que não diz que te quer…

Ele que não te beija quando desejas.

Ele que, acredita, não tem saudades tuas…

Não te espera, não corre para te ver. Não me consegue esquecer…

 

Mesmo assim… Mesmo assim, tu acordas com a mesma sensação de que foram feitos para viver juntos.

Mesmo assim choras para que um dia a tua esperança não seja em vão. Esperas incessantemente para que um dia Aprenda a amar-te.

Amar todos os dias, e não em dias alternados…

Amar a toda a hora, e não em escassos momentos…

Amar, somente amar. Com tudo o que tens direito.

 

És tu que sofres as angústias da rejeição, tu que sacrificas do teu dom, para fazer um lar perfeito. És tu que dás de ti, mais do que tens, mais do que deves, mais do que um dia achas-te possível. E por isso, ele fica, porque ele sabe.

 

Mas tu não sabes qual o erro…

O erro é da perfeição que desejamos.

A vida matou-o outrora, e tu apenas lhe deste vida. Ele, eterno de gratidão, fica contigo.

Fica e sorri.

Apesar de tudo o teu brilho do olhar dá-lhe alento. E tu estás no caminho certo, ele… Ele é que não…

 

Como pode assim ser?

Pode sim, quando Deus nos decide esquecer…



Sacrilégio - HISTÓRIA DE VIDA

 

 

Amar é prender-te a mim. Alimentar correntes, que sem dor, te fazem ficar. Amar é ter-te de forma invisível amarrada a meu peito. Amar é o teu nome, soletrado vagarosamente, como quem espera sem pressa...

Amar são espaços preenchidos com gosto de estar, são desejos em conjunto e projecção de outro dia. Amar é quando gostas de lhe ouvir a voz, sem saber o que diz. Amar é ânsia do toque que nunca chega, nunca mais chega...

 

Amo-te, sem saber definir o porquê. Mentiria se tentasse atribuir características físicas, como ao teu cabelo que flutua caindo pelos ombros, aos teus lábios que não sinto, mas que espero por rotina insistente, que me levem  até ti. Aquela rotina que não cansa, porque te tenho, sem te ter.

É suficiente para mim. Muitos se enganam aqueles que pensam que sou infeliz por esperar…

Espero sem noção, apenas sentindo-te perto, criando pontes em espaços onde não existes. Pontes proibidas.

 

Desculpa-me se te sufoco, se te tiro vida e qualidade de existência quando, sem te pedir que fiques, exijo que não vás.

Desculpa-me se me assusto com as tuas ameaças do fim. Se me tiras o folgo, não com o beijo que não prometes, mas com o tempo que me roubas em pensamento.

Desculpa-me se choro com o fim que eu próprio criei, que tardamente esconde a sombra do teu rosto. Triste me diz adeus e se afasta, quando apenas te desejei perto.

 

Amar é prender-te a mim. Alimentar correntes que sem dor te fazem ficar. Amar é ter-te de forma invisível amarrada a meu peito… Invisível, meus sentidos.

Amar-te é esconder de ti o que sinto. Ter-te é apenas gostar de ti, e mais que isso, é um sacrilégio que condenas.

Amigo é o que permites, amigo é o que serei.

Até sempre...

 

 

(texto de Catarina Portela)

 

História de Vida baseada em factos reais da vida de JOEL



Lágrimas de Branco

 
Reina no quarto, um cheiro a álcool etílico, que nos trazem memórias de horrores e dissabores marcantes…
Era um cenário cruel que matava quando se sentia a palidez de uma família agarrada a desconhecidos. A frieza entrava como arrepio em todos os ossos, e barulho de fundo, roubava a vontade de escutar.
 
Forças miúdas lutavam pela vida, num sofrimento atroz, sem entenderem o que as espera. Sem entenderem, o porquê da vida lhes matar os sonhos.
Colocam-lhe a mais árdua tarefa, o mais bárbaro truque de magia:
Fazer de Grande, um pequenino…
Dar força sem a ter…
Engolir lágrimas para não ver chorar…
 
Eles não sabem, não compreendem, não vêem de onde nasce um adulto com apenas aquele tamanho.
Não sabem explicar, como apesar de tudo, são os pequenos que lhe dão a força… quando o contrário, seria mais justo.
 
Eras de todas a mais angelical. De uma pequenez frágil, gritavas auxílio por entre corredores de dor. Tubos transparentes intermináveis esganavam-te a vida, com um líquido sem cor espetado nas veias.
Eles garantiram-te a eternidade, mas ficas-te presa num branco ofuscante.
 
E a criança pediu ajuda calada e já sem forças.
As lágrimas caiem no rosto de uma mãe impotente que agarrava de corpo e alma, a pele macia, os milagres, as excepções, e o sorriso que ainda brotava do anjo que se estendia a seus pés.
O Tempo rouba-lhe um pedaço insubstituível, sem que ela o pudesse travar.
O Pai já não fala. As horas são esquecidas, e os culpados não aparecem.
Olham-se adultos, impotentes. Abraçam-se à saída. E seguem caminhos diferentes com a mesma revolta.
 
Saem do quarto, remando contra mares de sangue, vertendo incapacidades.
A criança, esgotada, chora no quarto pela vida que a mata…
 
Alguém passou, olhou, e limpou lágrimas que mais ninguém via...