Hoje era mais um dia. Um dia de rotina em que eu própria o tornava especial, deliciando o mundo à minha volta com gargalhadas e boa disposição.
Hoje era mais um dia. Um dia em que todos os sentidos acordavam para me proporcionar um óptimo dia. Andava, falava, escutava, sentia, via, cheirava e não me faltava nada.
Mas hoje, algo mudou. O meu olho direito tinha um sol que brilhava de tal forma que não me deixava ver nada que estivesse na parte central, mas nem uma dor me incomodou. Chamam-lhe vulgarmente de “flash”, o meu primeiro sintoma.
Corri de médico em médico e de hospital em hospital, onde me foi detectava uma “ nevrite (ou neurite) óptica central é uma inflamação do nervo óptico, o nervo que é responsável por levar a informação do olho até ao cérebro – Uma inflamação que pode causar uma perda parcial súbita da visão do olho afectado.”
Mas não era só uma neurite central… A vida teimava em por à prova a minha resistência.
Seguiram-se semanas de exames e exames, todos eles diferentes. E Eu? Eu continuava a sorrir, alheia a qualquer problema grave. Animava a sala de neurologia, e todos se sentiam melhor. Até eu me esquecia daquele local branco de cheiro a álcool etílico onde passeavam entre eles anjos que nos visitavam com a promessa de nos fazerem sentir melhor.
Dias e dias passaram, até que a visão foi recuperada na totalidade, e tive alta.
Nesse mesmo dia, comunicaram-me que a perda de visão estava relacionada com uma doença. Foi-me diagnosticada Esclerose Múltipla em estado Inicial.
Vocês não sabem nem conseguem prever, o que é acordar um dia a descobrir que o amanha não será nem próximo, do que sonhamos. Vocês não imaginam o que é olharmo-nos ao espelho e imaginar que um dia muitos, senão todos, os meus movimentos serão passíveis de ajuda alheia. Ver a pouco e pouco o corpo a mudar, a mente a perder, os sentidos a partir sem que eu tivesse cometido um erro que me levasse a justificar um possível estado. O mais difícil será o dia em que aparecer de novo um estranho indício que me recorde da notícia que mudou a forma como vejo a minha vida.
Neste momento, nem um sintoma, nem uma forma de me apontarem a doença.
Neste momento, nem eu sei se ela existe, ou se partiu para sempre, da mesma forma que apareceu.
Cai no palco o pano teatral, e fecham-se histórias de horrores. De olhos nos olhos com a realidade, desvio o olhar. De que me serve lembrar a cruz!
Cavalgo por entre a sorte que me foge, e alcanço a tranquilidade que me pertence… Ou pertencia.
Texto baseada na História de Paula Branco - http://-cute-.hi5.com. Uma mulher que está sempre a rir, com um rio de amigos enorme, com uma vontade de viver terrivelmente assustadora. Quem a olha cá de fora, não vê o que ela esconde por dentro. São estes momentos em que penso, que se Deus existe, dá certamente aos mais fortes os problemas maiores...
“ O que é a Esclerose Múltipla (EM)? É uma doença neurológica crónica, de causa ainda desconhecida, com maior incidência em mulheres e pessoas brancas (pessoas com genótipo caucasiano). Esclerose múltipla é uma doença crónica que afecta o cérebro e cordão espinal. A esclerose múltipla pode causar vários sintomas, incluindo alteração nas sensações, problemas visuais, franqueza muscular, depressão e dificuldades de fala e coordenação. Embora muitos pacientes tenham uma vida plena e recompensadora, a esclerose múltipla pode causar problemas de mobilidade e incapacidade em casos mais severos. Esclerose Múltipla afecta os neurónios, os quais são células do cérebro e cordão espinal que carregam informações, criam o raciocínio e permitem ao cérebro controlar o corpo. Há uma camada de gordura que envolve e protege esses neurónios e os ajudam a carregar sinais eléctricos. A esclerose múltipla causa a destruição gradual dessa camada e a divisão dos neurónios em pedaços pelo cérebro e coluna espinal, o que ocasiona vários sintomas dependendo de quais sinais foram interrompidos. Acredita-se que a esclerose múltipla resulte do ataque do sistema imunológico da pessoa ao sistema nervoso, desta forma sendo caracterizada com uma doença auto-imune.
A fadiga é um sintoma muito frequente e bem conhecido da EM, mas porque pode também ser um sinal de outras doenças, não é imediatamente identificado como sendo causado pela EM. A fadiga se manifesta muitas vezes sob a forma de períodos que podem durar alguns meses, durante os quais a disposição se esgota diariamente, após um pequeno esforço. A fadiga ocorre, quer na EM em forma de surtos, quer nos tipos mais progressivos da doença.
A maioria dos casos é diagnosticada em adultos jovens, sendo raros os diagnósticos em pessoas com mais de 50 anos. Afecta duas vezes mais mulheres que homens (a cada três casos, um ocorre em homem). Na Europa, os países escandinavos são os mais afectados. A presença da doença em um familiar representa uma possível predisposição genética: a probabilidade de se vir a manifestar a doença é 15 vezes maior, neste caso. Estimam-se mais de um milhão de casos mundiais diagnosticados, dos quais 450 mil só na Europa. Em Portugal, há mais de 5 mil casos diagnosticados.
A terapêutica concentra-se nas acções que atrasam a progressão da doença e melhoram a qualidade de vida do paciente pela promoção do alívio dos sintomas.
A Esclerose Múltipla tem cura? Até á bem pouco tempo esta doença não tinha cura nem nada que se pareça, mas em 2006, foi descoberto que um componente da casca de ovo poderia funcionar na cura, mas ainda está em fase experimental em animais.”