Eu tenho dois Pais Homens

Os brinquedos estavam parados à frente da criança, que apática, se distraía com pensamentos de gente grande.
Ás vezes sentia que não era de ninguém. Os Pais, por mais que a amassem, tinham dificuldade em enfrentar todo aquele mundo. Mas pelos seus filhos, claro que lutariam, até deixarem de ter forças.
Mas os Pais jamais conseguem proteger-nos de tudo…
Assim que Pedro via os seus Pais, seus olhos brilhavam. Eram meigos, dóceis, afáveis, e ninguém duvidava que amavam aquela criança mais que do que eles mesmos.
- Pai, os meninos lá na escola gozaram comigo.
- Outra vez filho?
- Sim… - Dizia Pedro, com os olhos cheios de lágrimas.
- Sabes, que os teus Pais gostam muito, muito, muito de ti. Não dês importância ao que os meninos dizem. Eu amanhã até vou falar com a professora.
Pedro, sentiu-se protegido, apesar de no fundo, ter consciência que tudo se iria repetir, como tantas outras vezes se repetiam.
A criança e a sua capacidade de se abstrair, ultrapassam a terra dos adultos. O comboio da imaginação voltou a trabalhar. A discriminação ficou de lado, assim como a hipocrisia de todos os que não entendem o amor.
A tia Hermínia, raramente vinha lá a casa, aliás, quase ninguém vinha lá a casa. Desta vez, a tia Hermínia trouxe companhia, chama-se Rosa, e é amiga da Tia Hermínia.
Todos foram para a cozinha, e apenas o menino Pedro e a Dona Rosa é que ficaram na sala.
- Sabes Rosa, eu tenho dois Pais.
- E então Pedro, todos temos dois Pais.
- Mas os meus pais, são os dois homens, e lá na escola todos estão a fazer postais para o dia da mãe. E eu não tenho mãe.
- Faz o postal na mesma. Aliás, faz dois postais.
Pedro sorriu.
(Este Planeta chama-se Terra, e esta terra chama-se Portugal. Não um Portugal de hoje, mas quem sabe, o Portugal de amanhã. Estará Portugal preparado para se adaptar a esta realidade?
Os invisuais, os surdos-mudos, os portadores de algumas doenças motoras, e até por vezes, as pessoas com gostos diferentes da restante sociedade, continuam a ser algo de discriminação! Esta será mais uma confusão na mente de uma criança. Até que ponto vale a pena?
Verdade seja dita, que eu jamais amaria menos o meu Pai, ou a minha mãe, por uma escolha idêntica. A pergunta que se coloca é: E Portugal, respeitaria da mesma forma estes Pais e esta criança?)