Imagina - História de Vida de Paula
Imagina que Deus te castiga, que te calca, que te odeia, que te engole a vida, que te desfaz os passos, que te corta os laços.
Imagina que um dia a visão te trai, e te atira para a palidez com cheiro a álcool.
Imagina que jogas às cartas com os idosos e brincas às bonecas com as crianças que sofrem. A pensar que a tua sorte, é a mesma…
E mesmo assim tens muita, por não te doer nada.
Ainda sem saberes que a tua doença não dói assim…
Alguém brinca com a tua vida! Brinca Sim!!!
E tu começas a imaginar…
Só não consegues imaginar, o belo sorriso que reina naquele branco, que alegra o idoso e a criança, e encanta quem passa, com o seu ar de graça e vivacidade. Dura realidade…
O espaço gélido e o desassossego, movem-na. Não com a fraqueza que teme, mas sim com a esperança de um fim sem retorno…
Pobre logro…
Só não consegues imaginar, o dia em que dizem que podes voltar a casa. E voltas, mas não com um sorriso, mas sim com uma lágrima.
Esclerose múltipla, foi o veredicto. Um grito por dentro entoa e permanece durante dias, meses…
Fechou-se em casa.
Chorou.
Sofreu.
Lavou a mente, curou as feridas, e decidiu sorrir novamente…
E ninguém sabe como, nem porquê!
Traz a seus ombros, um peso. O peso do medo, da dependência de todos, da compaixão de muitos, a perda de tudo o que ambiciona ter um dia.
No entanto, dança! Dança sim! Melhor que tu!!!
Como? Sei lá!?
Deixa que vá alegre, deixa que o sol a ilumine mais, que a chuva lhe esconda as mágoas.
Deixa que a sorte lhe conte um dia, que vale a pena…
Enquanto isso, espera…
Ela esperou, Eu esperei, assim como vocês!
Que a doença não se manifestasse, e que nada do que fizesse ou dissesse, se notasse…
E não notou…
Uma noite, caíram-lhe pequenas gotas salgadas, e entre palavras magoadas com a vida, soltaram-se notícias por mim inesperadas.
À mãe alertaram-lhe para uma possível doença Alzheimer, e não contente com a saúde daquela família, Deus decide oferecer um cancro ao Pai…
Triste sina que não vai embora. Porque demora a entender o erro?
Enquanto outros caminham em mantos macios cheios de tudo, outros caiem em pedras escuras, que lhes pintam a vida de Negro
Qual é então, o TEU desespero?
O meu? Nenhum…
O teu? Tão pouco…
O Dela? O que conseguires imaginar…
(Paula é força omitida, e frequentemente destemida. É encanto quando brota um sorriso, que não se sabe de onde nasce, apenas se sabe que existe e persiste. De fortes raízes que a prendem à terra, mas com uma flexibilidade de que a permite voar, Paula é um segredo fantástico a desvendar.
Paula é mais que imagens, mais que... frases soltas e letras amarradas. Paula é o ser mais incoerente que conheço, pelo simples facto de dançar quando chora por dentro...
Paula, és um mistério, que me permite questionar:
- Porque é que Deus a testa, e ela ainda o consegue perdoar...)
Texto baseado na vida de Paula Branco
Catarina Portela
Porque a fé é sem dúvida a sua força...